sexta-feira, 16 de julho de 2021

Pesquisadoras pernambucanas lançam documentário produzido na Bahia sobre a importância do Maculelê na cultura brasileira


 



As gravações aconteceram em Salvador e Santo Amaro da Purificação com expressões e nomes consagrados ligados à essa arte.

 

Acontece neste dia 17 de julho de 2021, sábado, às 18 horas, no YouTube, o lançamento do vídeo documentário "Maculelê: Entre paus, grimas e cacetes". A realização do filme faz parte do projeto "Entre paus, grimas e cacetes: o Maculelê construindo sentidos pedagógicos". E também realizou quatro oficinas, vivências, pensados inicialmente para serem presenciais, mas foram ressignificados para o formato virtual, devido às restrições impostas pela pandemia de Covid-19.

O processo de pesquisa que gerou o documentário conta com entrevistas realizadas à mestres, mestras, pesquisadores e fazedores da cultura, e tem a direção de fotografia e montagem realizadas por Rayanne Morais e a produção executiva é de Karuna de Paula - Equinócio Produções.

O Projeto conta com incentivo do Microprojeto Cultural. No referido projeto, Gabrielle Conde e Bruna Mascaro desenvolveram pesquisa em torno da prática cultural do Maculelê nos municípios de Salvador e Santo Amaro da Purificação, na Bahia - território de fundamental relevância na construção histórica desta expressão.

O filme será lançado no Youtube e ficará disponível para visualização no link: https://www.youtube.com/watch?v=j7wg7AOreIM

Serviço:

O que: Lançamento do filme: Maculelê: entre paus, grimas e cacetes

Quando: Sábado, 17 de julho de 2021

Horário: 18 horas

Onde: Youtube - https://www.youtube.com/watch?v=j7wg7AOreIM

 

Diário de bordo das andanças na construção do documentário

 

A jornada começou com Renner Oliveira, discípulo de Neuza Saad, mulher de grande importância para a dança de Salvador. Devido aos protocolos de segurança da Covid-19, não foi possível encontrar pessoalmente com Neuza, contudo, num momento que requer cuidado e cautela ficou o desejo da equipe pesquisadora de saúde em primeiro lugar à grande Neuza.

 

O segundo bate-papo foi com Mestre Balão, do CTE Capoeiragem, que contou um pouco sobre seus conhecimentos e práticas no Maculelê, especialmente com crianças. E levou a equipe para conhecer o grande angoleiro Mestre Virgílio da Fazenda Grande.

 

A terceira prosa foi com o Mestre Máximo, do Capoeira Mangangá! Mestre Máximo é um historiador de Santo Amaro da Purificação e revela em sua fala aspectos relevantes da história e vivência do Maculelê.

 

“Foi um encontro emocionante com um mestre griô, testemunha viva da última apresentação de mestre Popó. O mestre Máximo relatou que, nessa ocasião, Popó dançava maculelê e chorava ao mesmo tempo, sabendo que sua passagem viria 6 meses depois. Salve Mestre Máximo! Somos agradecidas por tanto conhecimento, carinho e por ter aberto as portas da casa pra gente.” expressou as pesquisadoras.

 

Ainda de acordo com as pesquisadoras, Gabrielle Conde e Bruna Mascaro, outra parte fundamental da pesquisa foi a visita ao Centro Cultural Solar Ferrão, espaço que abriga a coleção de instrumentos musicais tradicionais de *Emília Biancardi.

 

“O encontro pessoal com Emília não foi possível devido aos protocolos de segurança da Covid-19. Mas, deixamos registrado nosso agradecimento sincero a toda atenção de Emília Biancardi, aos cuidados de Mãe Rita e a disponibilidade de Seu Otávio Mesquita e de Suzana!” destacaram.

 

*Emília Biancardi é etnomusicóloga e pesquisadora das manifestações tradicionais da Bahia. Além disso, é fundadora do reconhecido grupo Viva Bahia. Emília escreveu o livro Olelê Maculelê. Na visita ao Solar Ferrão tivemos acesso a livros, matérias de jornais e escritos sobre o Maculelê.

 

Seguindo a pesquisa foi a vez de encontrar com o professor e historiador Antônio Liberac, o qual pesquisa a cultura negra, cultura popular, capoeira, campesinato negro e história social. No bate papo, ele deu uma verdadeira aula sobre Maculelê e outros ensinamentos que Bruna e Gabrielle dizem que vão levar pra vida.

“Ver e ouvir o professor reafirma a importância do caminho que estamos trilhando e nos abre, com batidas de tambores e cacetes, trajetos para um amplo, diverso e profundo universo a ser trilhado nesta pesquisa. Ainda não conseguimos expressar com as palavras desse mundo a potência desse encontro. Um salve de agradecimentos e honras ao professor Liberac!”

 

Outro momento precioso se deu no Alto da Sereia, em Salvador, com a mestra de Capoeira Angola Dandara. Dandara Baldez é brincante e pesquisadora das manifestações populares e nascida em São Luís do Maranhão. Dandara é a primeira mestra em danças populares pela Escola de Dança da UFBA.

 

“A mestra nos contou sobre suas experiências em capoeira, maculelê, danças de luta e de trabalho. Além disso, fez uma prática de Maculelê compartilhando movimentações, conhecimentos e desdobramentos percussivos com as grimas. Salve mestra Dandara! Salve a resistência das mulheres negras!”

 

Em Santo Amaro da Purificação, terra do Mestre Popó do Maculelê e também da professora Maria Mutti, que concedeu a honra de uma conversa forte (como ela e a energia do Maculelê). No relato, Dona Maria conta que encantou-se pelo Maculelê ainda jovem e fez desse encantamento via de passagem para muitas aprendizagens ao lado do Mestre Popó.

“Nesta ocasião, fomos presenteadas pela partilha de fotos, instrumentos, de um jardim florido, pelo vigor de sua personalidade e pelos relatos da sua história de amor por essa luta dançada ou dança lutada! Gratas, felizes e instigadas, seguimos! Salve a professora Maria Mutti de Santo Amaro da Purificação! Salve o Maculelê de Popó!” - disseram emocionadas as pesquisadoras.

 

Ainda em Santo Amaro, a vivência de um momento “lindo e absolutamente importante” com Railan e Jordan, do Grupo ACARBO. Eles mostraram passo a passo os toques feitos pelo grupo do Mestre Macaco, que aprendeu com o Mestre Vavá, filho de Popó. Railan foi iniciado nas artes aos 2 anos e sabe na prática que "seus passos vêm de longe". Jordan herdou da ancestralidade esse dom. A vivência com Jordan e Railan traz no pulso a importância da continuidade do saber e fazer do Maculelê! “Por tudo, obrigada irmãos!”

 

Relatos da confluência de energias nos caminhos da pesquisa:

 

“Pela força dos acontecimentos e pela sincronicidade das energias, fomos levadas a Valmir Andrade, o Contra Mestre Tampinha - neto de Vavá de Popó. Tampinha, tímido e de poucas palavras, nos contou sobre sua convivência com seu avô, se emocionou e nos emocionou também. Ali, estávamos diante de um descendente direto da genealogia do Maculelê de Santo Amaro. Satisfação e gratidão gigante por este encontro. Viva o Contra mestre Tampinha!

Salve o Maculelê do Mestre Popó!”

 

“Como a sincronicidade do tempo e nossas energias estavam favoráveis, fomos levadas até o Mestre Felipe de Santo Amaro, hoje, o ancestral mais antigo conhecido na Capoeira Angola. O Mestre Felipe conviveu com Vavá - Mão de Onça e embora não tenha dançado o Maculelê, esteve presente em muitas apresentações junto a Vavá e outros capoeiras da época. Mestre Felipe, assim como todas as demais pessoas entrevistadas, lembra com emoção e nos aconselha a manter acesa a chama do Maculelê. Somos gratas e honradas por este encontro tão maravilhoso! Vida longa ao Mestre Felipe de Santo Amaro da Purificação!”

 

Continuando: Diário de bordo das andanças na construção do documentário

 

Dona Nicinha do Samba, sambadeira de valor, já andou mundo afora apresentando o samba de Santo Amaro. Enquanto dona Nicinha era entrevistada na porta de sua casa, as pessoas que ali passavam a cumprimentava e pediam a benção.

Mulher de Oyá, altiva e segura de si, foi esposa de Vavá de Popó. Tem com ele um filho e fala com orgulho do quanto compartilhou momentos e aprendeu com Vavá: "Ele não era só o meu marido, era um grande professor", contou D.Nicinha.

“Ouvir essa mulher grandiosa falar tão apaixonadamente sobre o Maculelê, nos traz a dimensão de como esta tradição é importante. Um salve as mais velhas, a quem abre as portas da casa e do coração pra nos contar os fazeres e saberes de num tempo possível de ser acessado através da oralidade. Viva Dona Nicinha, sambadeira de valor!” relataram Bruna e Gabrielle.

 

E por fim, com muita honra, o entrevistado foi o Mestre Macaco do grupo ACARBO, um homem que faz da capoeira vida e alimento diário. Nada em Santo Amaro teria acontecido dessa maneira mágica se não fosse a presença do mestre, que acolheu Bruna e Gabrielle em casa e abriu os caminhos.

O mestre e discípulo do Mestre Vavá de Popó e responsável por manter vivo, na atualidade, o Maculelê aprendido com Mestre Popó.

 

“Tivemos o privilégio de assistir ao Maculelê feito pela ACARBO, grupo de capoeira do Mestre Macaco. As gravações nunca vão dar conta dos recados e ensinamentos regados a café e bolacha. Pela beleza dos encontros, um viva! Somos absolutamente gratas a cada um por manter vivo em si o Maculelê! É preciso estar com os pés no chão e o coração preparado pra tanta emoção a cada toque nos tambores, aos cantos sagrados e as batidas dos cacetes. Salve o grande Mestre Macaco!” finalizaram agradecidas Bruna e Gabrielle.

 

 

Por Gabrielle Conde e Bruna Mascaro

Fonte: Capoeira, dança e mandinga @dancaemandinga 

 

 

Reedição de textos: Emerson Azevedo (Portal Terra de Lucas)

Apoio na divulgação: Portal Terra de Lucas

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